Olá, queridos!
Uma pausa para reflexão.
Nada como o distanciamento para a gente dar conta que não existe
uma só perspectiva de se ver as coisas e o que consideramos normal em um país é
visto com estranheza em outro. Quem acompanha o blog sabe que vários assuntos
me causam espanto pelo modo como lidam espanhóis e brasileiros; mas tem um,
particularmente, que me intriga: a questão feminina.
A Espanha teve que ingressar na modernidade rapidamente. Deixou
para trás uma ditadura conservadora e fechada (neste sentido, pior que a nossa)
para emparelhar-se com outros países europeus mais modernos e democráticos.
Isso levou a profundas e rápidas mudanças no jeito de abordar certos temas e
nem todos ainda foram assimilados. Um deles é a liberalização feminina.
Na época de Franco, as mulheres deveriam ser esposas
submissas e voltadas ao lar. Mais deveriam ser como sua esposa Carmem Polo.
Trabalho feminino era o doméstico, burocrático e, assim, a mulher tinha poucas
opções. Veio a democracia e o pêndulo foi para o outro lado. A mulher pode
tudo.
Mas uma ferida ainda ficou aberta: a violência
doméstica ou violência machista como a chamam por aqui. O discurso da esquerda
é feroz nesse sentido. Toda mulher que é assassinada por seu companheiro vira
manchete de jornal, a prefeitura da cidade faz um minuto de silêncio e o caso
rende minutos da TV. Comparei dois casos de violência contra a mulher neste post aqui e até hoje espero um pouco mais de solidariedade dos meus
compatriotas.
Estes dias houve outra história que me deixou estarrecida pelo modo que foi tratada pela imprensa brasileira e espanhola. Trata-se do caso de uma norueguesa que trabalhava na Dubai. Em uma festa, ela
bebeu demais e foi estuprada por um colega de trabalho. No dia seguinte, ao
denunciar o caso às autoridades, ELA foi presa porque havia cometido crimes
segundo a lei local: ingerir bebidas alcoólicas, perjúrio e manter relações
sexuais fora do casamento.
Ora, aqui na Espanha, o jornal El País, deu manchete por
horas na sua edição eletrônica, através da seção "Internacional" e o
caso foi revivido quando as autoridades a liberaram. A reportagem gerou 1147
comentários, foi partilhada 6.198 vezes pelo Facebook e outras 1.341 pelo Twitter. As
opiniões se dividiram em um debate acalorado sobre os direitos da mulher nos
países árabes e na própria Espanha.
Passemos ao Brasil. A mesma notícia foi publicada
pelo jornal O Globo primeiro na seção "Mundo" onde rendeu 29
comentários e 1.200 compartilhamentos no Facebook. Dias depois, a mesma
reportagem aparecia no apartado "Page not found". Tal seção se
descreve como "Inusitado, curioso, bizarro...parada obrigatória
aqui". Rendeu 7 comentários pelos leitores e, infelizmente, não podemos
saber o quanto foi compartilhada pelos leitores nesta seção.
Não é
possível discutir os argumentos dos comentários aqui neste post. Lamento. Mas
queria desabafar como a questão da violência contra a mulher é tratada em ambos
os países. Aqui não faltam as pessoas que pensam que é sempre a mulher que
provoca o homem, que foi ela que usou roupas curtas demais e outros machismos
do gênero, ditos, especialmente pelas próprias mulheres. O que me surpreende é
ver que, ao menos, a sociedade espanhola - que é machista sim - ao menos
discute a questão e a externaliza.
No Brasil, isso faz parte da paisagem. É tão normal que sequer enxergamos que está ali presente e deve ser modificado. O tema pode ser discutido em uma seção que se intitula de bizarra e os leitores nem criticam o editorial do jornal por isso. Ainda falta muito para que os dois países avancem quanto a questão dos direitos da mulher, mas a sensação é que na Espanha, o movimento já começou.
Para quem deseja ler a reportagem do El País: http://internacional.elpais.com/internacional/2013/07/20/actualidad/1374339280_405343.html
O Globo: http://oglobo.globo.com/mundo/policia-prende-norueguesa-que-deu-queixa-de-estupro-em-dubai-9070737
http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2013/07/22/norueguesa-perdoada-apos-denunciar-ter-sido-estuprada-em-dubai-504319.asp
No Brasil, isso faz parte da paisagem. É tão normal que sequer enxergamos que está ali presente e deve ser modificado. O tema pode ser discutido em uma seção que se intitula de bizarra e os leitores nem criticam o editorial do jornal por isso. Ainda falta muito para que os dois países avancem quanto a questão dos direitos da mulher, mas a sensação é que na Espanha, o movimento já começou.
Para quem deseja ler a reportagem do El País: http://internacional.elpais.com/internacional/2013/07/20/actualidad/1374339280_405343.html
O Globo: http://oglobo.globo.com/mundo/policia-prende-norueguesa-que-deu-queixa-de-estupro-em-dubai-9070737
http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2013/07/22/norueguesa-perdoada-apos-denunciar-ter-sido-estuprada-em-dubai-504319.asp
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